Exposições
Saturno | Edu Monteiro
Sobre o autor
Edu Monteiro nasceu em 1972 em Porto Alegre, vive no Rio de Janeiro desde 1998. Artista visual, trabalha com fotografia desde 1991. Possui mestrado em “Estudos Contemporâneos das Artes” pela UFF-RJ. É pós-graduado em fotografia pela Universidade Cândido Mendes-RJ e graduado em jornalismo pela Unisinos-RS. Foi coordenador de fotografia na Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre. É sócio do estúdio Fotonauta desde 2001. Colabora para diversas revistas como a National Geographic e diversas outras. É curador colaborador dos ensaios fotográficos da revista +Soma-SP. Em 2012 foi finalista do prêmio internacional de fotografia Photovisa na Rússia com o ensaio “Saturno”. Em 2011, participou do FotoRio com a exposição individual Autorretrato Sensorial. Já participou de diversas exposições coletivas no Brasil e no exterior.
Texto crítico
O mundo tornado imagem é de imediato perdido. Por isso, a fotografia carrega certa melancolia; a imagem é sempre passado. A conquista imaginária do planeta Terra a qual os primeiros fotógrafos-viajantes se lançaram, gloriosos, permitia a ilusão de um ganho (de mundo). Hoje, a viagem da fotografia talvez tenha se tornado um tocante e repetido inventário do que nos resta. Nela, seríamos guiados por Saturno, que, segundo os antigos, estaria associado à produção da bile negra que domina o temperamento melancólico.
Saturno é uma dessas viagens do retorno, da perda, mas é também um itinerário de transformação do mundo. Edu Monteiro nela retoma lugares assumidamente íntimos, em uma espécie de busca de si mesmo. De volta ao Sul do país, onde nasceu e passou sua infância, ele percorreu localidades da serra gaúcha e parte do longo litoral do estado. Às imagens obtidas nesses itinerários acrescentaram-se fragmentos obtidos em outras paragens, tais como Paris, Buenos Aires, Ilha Grande, Porto Alegre e Barbados.
Nessa múltipla viagem, o fotógrafo não confirma seu lugar no mundo, mas afirma-se fora de si, em determinados recortes do mundo. Em algumas fotografias Edu utiliza um complexo dispositivo concebido por ele e composto de um espelho circular que lhe cobre o rosto e ao qual se acoplam, em sua face interna, o visor e o disparador remotos de sua câmera fotográfica. Graças a esse aparato, o artista se duplica e divide entre aquele que vê e aquele que é olhado pela câmera. Em parte mimetizado ao ambiente, ele pode então, alternadamente, se confundir com o contexto à sua volta ou dele se destacar, brincando com a distinção entre paisagem e retrato, objeto e sujeito, de modo a afirmar na paisagem e no objeto uma estranha força de autorrepresentação.
Diferente de sua própria imagem, o sujeito surge assim com força, mesmo nas imagens em que não há espelho nem autorretrato; ele está disseminado em objetos e cenas. A fotografia retoma então toda sua potência alegórica, todo o estranho poder que talvez lhe atribuíssem em seus primeiros tempos: aquele de animar restos e fragmentos variados de mundo.
Tania Rivera