Exposições
A fotografia | Victor Naine
Sobre o autor
Graduado em Filosofia (UCP, 2007). Mestre em Estética (PUC-Rio, 2010 – dissertação sobre imagem e crítica em Walter Benjamin) e pós-graduado em Fotografia & Imagem pela IUPERJ / UCAM (2015), onde foi professor de 2015 a 2017. Fotógrafo e editor da empresa I Hate Flash, por quatro anos. Foi diretor de fotografia e roteirista da Mítica Filmes com realizações de três curtas apresentados no Espaço Itaú de Cinema (2014).
Texto crítico
A fotografia não surgiu pela mão da natureza, mas pela lupa de detetives. Esses homens das ciências precisavam de novas ferramentas para medir o mundo. Então inventaram uma que lhes davam resultados verossímeis. A nova imagem era tão persuasiva que, numa inversão entre criador e criatura que remonta ao Iconoclasmo, reinventou o Homem à sua semelhança. E o Novo Homem se viu nesse espelho que ele mesmo poliu e, de tão bem polido, nunca mais distinguiu totalmente suas próprias feições da imagem de seu duplo formada na superfície.
Embrenhando-se em uma investigação paciente das primeiras técnicas fotográficas, Victor Naine resgata a sedução desse mito de origem, apenas para despedaçá-lo. Resta-nos seguir os vestígios. Imaginamos uma imagem que é a mãe de todas as imagens, como a fotografia do jardim de inverno de Barthes: índice absoluto que, origem e centro de tudo, jamais se revela.
A Fotografia não existe. Há apenas fotografias, com f minúsculo: cacos de espelho quebrado que refratam a luz em múltiplas direções. Para a psicanálise (sua contemporânea), o fetiche é aquilo que esconde o objeto ausente, ocupando seu lugar. Assim são esses fragmentos a que chamamos fotografias.
Talvez seja da natureza humana tentar juntar os pedaços, procurar sentido, como detetives em busca de uma verdade primordial. A fotografia nos instiga a fazer justamente isso. No cerne do mistério há um buraco negro, inverso (negativo) de uma ausência, evidência mesma de uma presença invisível – mas verdadeira.