Exposições
Peles Fotográficas | Claudia Mauad
Sobre o autor
Formada em Educação Artística pela PUC- RJ, mestre em Ciência da Arte na UFF-RJ, fez cursos de Desenho, Pintura e Fotografia na EAV-Parque Lage. É professora concursada do Colégio Pedro II desde 1985,onde coordena a área de artes visuais. Já realizou diversas exposições, entre individuais e coletivas e possui obras suas em acervos como a Coleção Joaquim Paiva de Fotografia Contemporânea e do SESC Rio de Janeiro.
Texto crítico
A necessidade expressiva, embora possua limites em sua potência, não possui uma direção predeterminada, e a análise destes relaciona diretamente à situação biográfica do artista sua potência artística. No entanto, deve ser dito que essa exteriorização sem direção, para a arte, é uma qualidade inestimável, na medida em que pode fazer o artista constituir ou ocupar campos impossíveis para o especialista, campos desertados pelo desejo de ‘acertar’ e resolver o problema da arte transparentemente. O artista, ao contrário, vive na aesthesis e trata do problema da vida, incluindo aí o da arte.A rivalidade entre pintura e fotografia no Brasil nunca foi historicamente potente. Mas ainda que pretérita, tal rivalidade ecoa no globalizado esvaziamento de um campo híbrido coibido, seja por teoria ou sistema da arte, que apontam em uma e em outra aspectos domesticados. Quem pode saber? O fato de que Claudia Mauad opere nesse campo a desterritorializa. Sua obra se adequa e se entrega a esse e outros paradoxos no desejo de tornar seu e nosso esse território.
Aí, o que desejamos testemunhar é justamente sua entrega contra essa adequação. O segredo é que na entrega todos esses paradoxos nos são revelados como experiência do ser, tanto como conhecimento da arte; na adequação esses são operacionalizados esteticamente. A presença do gesto pictórico na fotografia é claramente obsessivo, mas a obsessão se organiza freudianamente como um exercício. Exercício cujo fim, romântico, não é propor uma nova solução de forma, mas reiterar o problema que concerne à vida infantil, à família, à maternidade. Na proporção inversa desse simbolismo encontramos variações passíveis de repetição infinita – pretos, dos quais se retraem cinzas, brancos que se sujam com o olhar, ocres que se reforçam com a ação da luz, cinzas marmorizados que denotam o excesso e a incerteza; as cores surgem contra as formas em uma imperfeita modelação – as imagens fotogramadas pelo contato direto com a química são, ao mesmo tempo, reveladas e destruídas nessa superfície e denotam que os objetos tematizados, bem como a fotografia, à qual finalmente remetem, jamais serão resolvidos, ainda que possamos, a partir de sua multiplicação, reconstruir estes objetos prosaicos.
Sobretudo, o que podemos deduzir é que, tanto quanto exercício da forma fotopictórica, as múltiplas variações constituem no espaço, metonimicamente, uma duração puramente mental do ser que guarda todos os seus estados como presentes, e, assim, a própria exposição se entrega como memória.
Claudia Mauad