Exposições
Tempos Misturados | Marcelo Greco
Sobre o autor
Marcelo Greco é paulista e professor de cursos e oficinas do Museu de Arte Moderna de São Paulo, onde orienta fotógrafos em grupos de estudos de desenvolvimento de suas produções artísticas. Como profissional coordena e faz curadoria da obra de diversos fotógrafos para exposições em eventos nacionais e internacionais. Já participou de mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior.
Suas obras fazem parte da Fundação Cultural de Curitiba, Pinacoteca do Estado de São Paulo e Museu de Arte Moderna de São Paulo. Ganhou uma bolsa de trabalho em 2003 do Centro Português de Fotografia (CPF) para o Apoio ao Projeto “Íntima Luz Íntima”, realizada em Portugal. Em 2005 o trabalho “Silêncio Selvagem” foi selecionado pelo comitê da Galeria Leica de Solms (Alemanha) para ser exposto no ano seguinte, tendo sido exposto também em Frankfurt. Foi curador geral do Festival de Fotografia ‘Paraty em Foco’ 2008.
Texto crítico
Notas
Olhamos e recordamos.
Os tempos se misturam.
Reminiscências de outros tempos invadem o presente, com insistência.
Mesmo que se queira, não nos livramos das representações que se
constroem a partir do vivido.
Elas aparecem e se interpõem em nossas
experiências.
O mais comum seria ver o que se sabe, mas às vezes, outras lembranças
aparecem, nos assombrando, dificultando o ver; ver o que está diante de nós.
Elas estão sempre se fazendo presentes, perseguindo, assaltando o momento,
obrigando-nos a duvidar do que estamos vendo:
Então é isso?
Vejo ou me lembro?
Lugar
Não é possível acreditar no que se mostra como existente nestas fotografias.
O que vejo me escapa como compreensão.
Há sempre insuficiência.
Não são imagens de sonhos.
Não há histórias para contar,
embora tragam a marca do passado.
São imagens sem cicatrizes, embora guardem lembranças de um passado,
seleções de esquecimentos.
Prefiro dizer: são imagens para sonhar.
E isso é muito diferente.
Aliás, acho que elas não querem pertencer
à existência ordinária:
o que elas oferecem é lugar desconhecido.
Elas oferecem um não-visto.
Elas não se dão de imediato, o entendimento está sempre adiado.
São imagens de um território que não se pode nomear,
de um território que não se pode reconhecer.
Contrariam a ideia de existência única. Fazem-nos perseguir o que é
inalcançável e, com essa procura, acabamos por fazer ficção.
Acontece uma mágica nessa errância, nessa busca de sentido: olhando estas
fotos, surge a possibilidade de se experimentar no olhar do outro.
A arte possibilita que se possa escrever a identidade no plural:
apreendemos que, às vezes, é preciso ser um outro para ser si mesmo.
Chego a ter vontade de mentir.
Mentir para se ter um destino, mentir para se ter um futuro.
Lembro-me de ter lido:
quem dança não é aquele que levanta a poeira,
mas aquele que inventa seu próprio chão.
(Sophia de Mello Breyner Andresen).
O conjunto destas imagens faz um lugar.
A temporalidade nestas imagens não é a do acontecimento,
os elementos que compõem as imagens estão lá para anunciar o ambíguo.
O jogo proposto é sustentar o enigma.
Percepção e Pensamento | As sombras
Eis um jogo: descobrir os pensamentos que as sombras guardam,
atravessar as evidências do que é visível.
Às vezes, tenho a sensação de enxergar algo,
mas acabo por perder-me na compreensão, meus olhos perdem-se
no quepoderiam ter discernido.
Acontece que vagamos aí.
Vagamos em muitas coisas que conhecemos, numa vastidão imensa.
Não encontramos semelhanças.
No escuro das sombras há mensagens que estão a meia distância
entre percepção e pensamento.
Elas, as sombras, mostram-se visíveis a todos que prestam atenção.
São sombras tão intensas, tão densas, que as luzes que se fazem ver perto delas ganham dramaticidade e potência.
As cores que se mostram perto delas parecem desesperadas.
As cores
As imagens, especificamente estas imagens, nos levam a um lugar onde trabalhamos com abstrações.
Esse lugar é um exílio, por sorte podemos de lá retornar.
Retornamos com as imagens, com as lembranças, impregnados
das cores,
do encantamento.
O que ilumina esse lugar são luzes noturnas.
Luzes que constroem sonhos inquietantes;
sonhos que alteram as operações do pensar.
Sergio Fingermann, abril, 2010