Exposições
Tempo Improvável | Francisco Moreira da Costa
Sobre o autor
Francisco Moreira da Costa começou a fotografar em 1983 e, a partir de 1999, passa a integrar a equipe do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do IPHAN. Recebeu em 2004 o Prêmio Aquisição no Salão Arte Pará, com dois daguerreótipos, passando a fazer parte do Acervo da Fundação Rômulo Maiorana. Em 2005, participou da Coletiva: O’ Brasil, da Terra encantada ‘a Aldeia Global com curadoria de Denise Mattar no Palácio do Itamaraty em Brasília. A partir de 2014 seus daguerreótipos passam a integrar o portfólio da Galeria Fass de São Paulo e com a galeria, participou do SP/Arte Foto, 2014, 2015 e 2016. Em dezembro de 2015, faz sua primeira exposição de daguerreótipos, A Placa Mágica, na Galeria Fass em São Paulo. A partir de 2016 seus daguerreótipos passam a integrar o portfólio da Tempo, no Rio de Janeiro.
Texto crítico
A pesquisa fotográfica de Francisco Moreira da Costa não leva o observador a traçar paralelos possíveis com outras produções artísticas no primeiro contato travado com sua obra. Mas, num sobressalto, somos tomados pela poesia de Manoel de Barros, as imagens intimistas de Josef Sudek, o universo particular de Cora Coralina, as sutilezas de Morandi, o formato diminuto de Yamamoto… É preciso acessar conteúdos do passado, vasculhar lembranças, para sermos arrebatados por sensações surpreendentes. A visão das imagens chegam até nós imantadas, com cheiro, temperatura, ruído, sabor. Diante da placa de prata nos deparamos com algo novo, fora do tempo e sem lugar definido.
Há duas décadas, a opção pela daguerreotipia, levou Francisco a um caminho sem volta. Como Narciso, ele próprio revelou-se, inebriado no reflexo do retângulo espelhado de si mesmo. Alquimista, passa a buscar procedimentos, materiais e gestos praticados pelos pioneiros da fotografia de forma incansável. Tubo de ensaio, pipeta, cadinho, cobre, ouro, prata, bromo, mercúrio… Esse passa a ser o seu vocabulário. Assim, inicia-se o sentimento de “suspensão” no fotógrafo-pesquisador, alheio ao mundo atual da imagem fácil, das palavras vazias, dos sentimentos passageiros. A transferência da superfície espelhada para o papel metalizado – utilizado pela primeira vez nessa mostra – trouxe frescor ao trabalho sem perder suas referências inaugurais.
Os objetos retratados – candeeiros, cestos, jarro de flores, raízes – trazem à discussão o passado abandonado, que transpassa toda a produção de Francisco. Deixam lembranças de algo que, possivelmente, sequer fizeram parte de nossa vida. Com persistência, vamos identificando na memória adormecida a paisagem esquecida, inconsciente, secular; arriscamos dar corpo a tempos improváveis e nos alimentamos de sentimentos de eternidade. Assim, nos desvios da vida, se forma a poética desse fotógrafo singular e plural. Num só tempo, no mesmo lugar.
Marcia Mello