Exposições
Os Trabalhos | Coletiva
Sobre o autor
Artistas: Ana Paula Albé . Bruno Lisboa . Caroline Valansi . César Cardoso . Chico Fernandes . Daniela Dinkelmann . Daniela Justus . Diana Osward . Fernanda Satamini . Gabriela Ferraz . Isabela Lira . João Araújo . Leandro Pimentel . Leonardo Ramadinha . Marcelo Corrêa . Márcia Baíz . Márcia Kranz . Marcio Mitkay . Marco Antonio Portela . Massoca Fontes . Patricia Gouvêa . Roberta Barros . Rodrigo Lopes . Sámara Wierner . Taís Monteiro . Tereza Heuzi
Texto crítico
Em sua Pequena história da fotografia, Walter Benjamin afirma que as grandes realizações do cinema russo devem-se à circunstância de, naquele país, a fotografia ter servido antes à experimentação e ao aprendizado do que à excitação e à sugestão. Grande parte da força desta mostra, pode-se argumentar, reside na observação do princípio exaltado pelo pensador alemão. Pois, além do uso da fotografia como meio, o que equaliza origens e abordagens tão distintas é, justamente, um caminho comum de aprendizado e de experimentação estética. O fio a ligar cada conta do mosaico é o fato de, em algum momento, terem freqüentado o curso de Marcos Bonisson, neste ateliê. Toda foto, diz Susan Sontag, é testemunha da implacável dissolução do tempo. A fotografia, sustenta a ensaísta, é o inventário da mortalidade. Memento mori. Nesta exposição, a diversidade temática e de linguagem é perpassada por uma ênfase que reforça o vínculo melancólico proposto por Sontag. Mais do que isso, porém, as imagens insinuam sintonias com o tempo presente.
Tempo no qual o declínio das grandes narrativas impulsiona um desvio fragmentário em direção ao cotidiano e ao aparentemente banal, investidos agora de nova importância, traduzida em reaproximação da arte com a vida. O espectador há de notar as reverberações, as relações entre as imagens expostas. Tomados em conjunto, a que nos convidam estes olhares? Ao mistério encerrado no cotidiano, aos objetos que começam a extinguir-se, às coisas perdidas e extraviadas, a uma ausência, à inexorável impermanência. Se meras coincidências fossem, poderíamos, talvez, explicá-las pela subordinação a um espírito do tempo ou a um traço inerente ao objeto fotográfico. O certo é que cada imagem foi construída a partir de um exercício experimental de liberdade, como sugeriu o crítico Mário Pedrosa. Cada olhar deixou transbordar de si o seu tanto de magia.
Rodrigo Morais