Exposições
Kitinete | Patrizia D’Angello
Sobre o autor
Patrizia D’Angello, vive e trabalha no Rio de Janeiro, formada em Artes Cênicas pela Uni-Rio, em Moda pela Cândido Mendes e com diversos cursos livres na EAV – Parque Lage. Entre as principais exposições estão: Novíssimos 2010 (Galeria Ibeu RJ), SAMAP (Casarão 34, João Pessoa PA 2010/2011) e Banquete Babilônia (individual Galeria Amarelonegro RJ 2011). Indicada ao Prêmio PIPA 2012.
Texto crítico
Desde 2008, a artista visual Patrizia D’Angello tem trabalhado o cruzamento da fotografia com os cinco gêneros existentes da pintura: retrato, auto-retrato, natureza-morta, paisagem e nu. Porém, em algumas obras é possível encontrar a interseção destes gêneros, com as quais a artista nos revela que esta formalidade pode ser subvertida. A sua preferência pela pintura a óleo, pastel seco e aquarela se dá pela possibilidade de manuseio e alterações durante o período em que está elaborando imagens com irônico realismo, a partir de referências de seus registros fotográficos ou apropriados de terceiros. Cenas corriqueiras adquirem uma determinada sofisticação com o olhar protagonista da artista, que aponta para os detalhes banais de algum canto de sua residência ou até mesmo as sobras de um prato de comida em uma churrascaria.
A exposição “Kitinete”, que a Galeria do Ateliê acolhe, remonta um pouco a prática da artista, que direciona seu objeto de estudo para alguns aspectos da rotina da vida doméstica e familiar. A partir de seus momentos íntimos, Patrizia D’Angello organiza com desenvoltura um repertório que serve como um apontamento de memórias, uma vez que cada pintura tem uma pequena história a ser revelada. As imagens são registradas e armazenadas em arquivos digitais ou impressas e guardadas em caixas, para que estejam disponíveis no momento adequado de transformá-las em obras de arte. É com naturalidade que ela discorre sobre um determinado almoço em família, que mobilizou os presentes para ajudá-la a fotografar algum prato que lhe tenha chamado a atenção. Da mesma forma que apresenta uma seqüência de obras que realizou a partir de registros dentro de sua própria casa, transformando embalagens de produtos de higiene pessoal e cosméticos amontoadas num canto do banheiro, em uma despojada natureza-morta, por exemplo.
Sua obra passa a largos passos de algum aspecto naïf, uma vez que cada detalhe é criado de um registro prévio, editado, transformado ou remixado sobre o suporte final. Sua intenção está em cada pincelada sobre a tela ou o papel, sem se intimidar com as escalas de seus trabalhos, que podem ser pequenos ou generosamente ampliados. Imagens de alimentos à mesa se apresentam de forma voluptuosa e em alguns casos, com forte apelo erótico. O quarto desarrumado, com pistas que sugerem algumas possibilidades do que possa ter acontecido. Neste caso, os vestígios adquirem uma importância fundamental para conduzir a narrativa arquitetada pela artista. O tom lascivo de sua pintura potencializa o estranhamento das imagens, para posteriormente prender o olhar do seu observador por mais tempo, seduzindo-o com a intimidade revelada.
Assim como a fotografia se torna o ponto de partida para a referência de seus trabalhos, o vídeo assume o papel de registro final para a performance aplicada, que a artista realiza com amigos em volta de uma mesa de jantar, com uma elaborada sucessão de experiências sensoriais propostas aos seus participantes. O tato, aroma, visão, audição e paladar revelam diferentes expressões e reações que podem ser observadas na tela exibida no ambiente expositivo. Se na foto o registro caracteriza-se pelo espontâneo e inusitado, no vídeo existe a expectativa dos acontecimentos após cada estímulo provocado.
Este ciclo pela busca da imagem, por meio da fotografia, torna-se pleno em sua pesquisa com uma nova série que a artista começa a desenvolver. Em uma das paredes do ambiente dedicado ao quarto de Kitinete, logo ao fundo da galeria, Patrizia D’Angello apresenta uma instalação de fotografias acondicionadas em backlights, com imagens de céus captadas de diversos lugares por onde ela passou, formando uma espécie de janela com vistas múltiplas.
Esta exposição foi concebida pela sua anfitriã para que os visitantes conheçam a sua intimidade, sem muita cerimônia. Pode entrar, fique à vontade!
Marco Antonio Teobaldo