Exposições
Já Não É Mais Verão | Marco A. F.
Sobre o autor
Marco Antonio Santos da Rocha Filho (Lajeado, RS, 1984) é formado em Comunicação Social pela Unisinos-RS. Participou de exposições coletivas no Brasil e na Europa. Foi um dos ganhadores do XII Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia 2012 com o ensaio ‘Já não é mais verão’. Em 2013 lançou de forma independente o livro ‘Da tua primeira fotografia’, dentro do projeto coletivo ‘É preciso arrumar a casa’. No mesmo ano apresentou sua primeira exposição individual, ‘Já não é mais verão’, na Casa de Cultura Mário Quintana (Porto Alegre). Prepara para lançar em 2014 a publicação ‘Viagem pela linha invisível’ em parceria com o jornalista e crítico de arte Eduardo Veras.
Texto crítico
Porque a família teve muitos endereços e morou em diferentes cidades, ele imaginava que a casa de verdade – a casa que ele gostava de chamar de “lar” – era a casa da praia, aquela em que ele passou, ao lado do pai, da mãe e dos irmãos, todos os veraneios da infância e da adolescência, desde o primeiro, antes mesmo de completar um ano. Da metade de dezembro até meados de março, o pequeno apartamento de Tramandaí, no litoral norte do Rio Grande do Sul, era a sua casa; Tramandaí, a sua cidade. O resto do ano, acomodado ao ritmo da urbe, esse sim, é que era passageiro, provisório, um interlúdio sem graça, na expectativa da temporada que realmente importava.
Ocorre que o tempo passa e os espaços se transformam. Os verões se tornaram cada vez mais curtos – até quase desaparecerem por completo. Tramandaí, outrora farta de amigos, experiências e diversão, virou cidade-fantasma, assombrada por um passado que não estava mais lá.
O ensaio Já não é mais verão recupera, por um lado, essa narrativa particular, sobre o que permanece na memória e se mantém apenas fragilmente sinalizado nos cenários da juventude. Por outro lado, evoca um espaço/tempo que ronda, feito promessa, o imaginário de todo aquele que vive a maior parte do ano enfurnado na cidade e distante do mar. O inverno litorâneo, frio e despovoado, assinala esse período de desejos irrealizáveis.
A paisagem – com seus céus nublados, a longa faixa de areia, ainda mais longa porque deserta, as ruas solitárias, as janelas fechadas, os objetos domésticos encobertos por lençóis e toalhas, os vestígios daquilo que ainda não foi totalmente carregado pelo vento e nem comido pela maresia – posa solene diante da câmera. Não se trata de ruína, nem de escombro. É antes um tempo suspenso, à espera, um intermezzo silencioso, enquanto não chega o próximo verão.
Eduardo Veras, curador