Exposições
Imagens Posteriores | Patricia Gouvêa
Sobre o autor
Patricia Gouvêa nasceu em 1973 no Rio de Janeiro, onde trabalha. Artista visual, trabalha em fotografia, vídeo, instalação e intervenção urbana. Seu trabalho prioriza a fotografia e a imagem em movimento e suas possíveis interfaces, onde a noção de tempo constitui um dos principais eixos de pesquisa. Graduada em Comunicação Social (ECO/UFRJ), Especialista em Fotografia e Ciências Sociais (UCAM/RJ) e Mestre em Comunicação e Cultura na linha Tecnologias da Comunicação e Estéticas da Imagem (ECO/UFRJ). Entre 2005 e 2009 fez parte do coletivo Grupo DOC (Desordem Obssessiva Compulsiva), que promoveu dezenas de ações no Brasil e no exterior. Publicou os livros: “Membranas de Luz: os tempos na imagem contemporânea” (2011, Azougue Editorial), Imagens Posteriores (2012, Réptil Editora) e Banco de Tempo (2014, em parceria com Isabel Löfgren, edição das autoras), e participou de muitos outros.
Participou de dezenas de coletivas e realizou exposições individuais na China, na Itália, no Brasil, na Colômbia e Argentina. Em dupla com a artista Isabel Löfgren desenvolveu as pesquisas de longa duração Banco de Tempo (exposição na Galeria do Lago/Museu da República, RJ, curadoria de Isabel Sanson Portella em 2012; site e livro com edição independente lançado em 2014) e Mãe Preta (exposição na Galeria Pretos Novos Arte Contemporânea/Instituto Pretos Novos, RJ, curadoria de Marco Antonio Teobaldo; site e publicação, 2016).
Foi uma das fundadoras da Agência Foto In Cena (1995/98) e do Ateliê da Imagem (1999), espaço cultural dedicado à pesquisa, reflexão e produção da imagem no Rio de Janeiro, no qual atuou como diretora artística até dezembro de 2013. Faz parte da plataforma cultural e galeria TAL | Tech Art Lab, localizada no Rio de Janeiro e é representada pela Bossa Gallery em Miami, Estados Unidos.
Texto crítico
Mais que um instante, quero seu fluxo.
Clarice Lispector, Água Viva, 1973
Fiel ao pensamento de Patricia Gouvêa, quero começar essa pequena apresentação com uma citação, palavras de uma autora fundamental no panorama literário mundial, que se tornam aforismo na hora de sintetizar a complexa e profunda reflexão sobre o Tempo que acompanha a pesquisa da artista. Qualquer reflexão crítica e fundamentada sobre seu trabalho não pode existir sem partir do conhecimento de seu pensamento teórico. Como poucos artistas sabem fazer, Patricia consegue argumentar e sustentar os temas que acompanham a sua produção com uma profunda pesquisa intelectual. Seria possível afirmar que seu fazer artístico não existe sem sua pesquisa teórica e que, dos temas que acompanham sua carreira, o Tempo é o mais presente e constante ao longo dos anos.
Não cabe aqui resumir a obra Membranas de Luz: os tempos na imagem contemporânea*, mas é fundamental convidar o público que queira ir além da superfície estética das Imagens Posteriores a tentar entender qual é o sentido que a artista doa para o conceito de duração nas imagens fotográficas. Com base no pensamento bergsoniano, ela explora a necessidade de unir instantes presentes, passados e futuros em um único “momento”. Experiência que se torna física, onde o corpo age como membrana e permite que os seres vivenciem o tempo na sua integridade. A grande qualidade estética dessa série, que é uma verdadeira viagem sensorial e emocional, se torna completa com os conceitos investigados pela pesquisa teórica da artista. Nas suas Imagens Posteriores, o tempo – que na concepção da maioria das pessoas se traduz como instante fotográfico – se torna duração: as fotografias se transformam em experiências físicas de verdade. É por isso que diante dessas obras perdemos a noção do momento e entramos em um estado quase de meditação visual. Transportados pelo movimento dentro das fotografias, chegamos a perceber que o que foi captado pela câmera não é um simples extrato do tempo finito, mas realmente um fluxo de instantes. As Imagens nos levam a entender diretamente o que Patricia entende com a palavra Tempo: o passado, o presente e o futuro em uma única grande experiência do corpo, lugar onde “habita o tempo infinito”.
Convido todos a se perderem nesse Tempo e a curtirem esta viagem.
Claudia Buzzetti
*Membranas de Luz: os tempos na imagem contemporânea, Patricia Gouvêa, lançado pela Azougue Editorial, Rio de Janeiro, 2011.