Exposições
Exposição Arqueologia de Ficções | Gilvan Barreto
Sobre o autor
Gilvan Barreto é pernambucano mas reside no Rio de Janeiro há oito anos. É autor de Moscouzinho (Tempo D’Imagem, 2012). A publicação traz uma narrativa poética sobre a reinvenção de uma Rússia tropical e nordestina. Acaba de lançar “O Livro do Sol” (Tempo D’Imagem 2013), que recebeu o Prêmio Fundação Conrado Wessel (FCW) de Arte 2013. A publicação retrata a relação do sertanejo com a natureza, tendo com fio condutor a obra de João Cabral de Melo Neto. Gilvan Barreto participou de exposições coletivas no Brasil e no exterior. “Arqueologia de Ficções” é sua primeira exposição individual. A mostra entrou em cartaz em outubro do ano passado no Capibaribe Centro de Imagens, em Recife, vem ao Rio para ser apresentada na Galeria do Ateliê e, em agosto, segue para a Galeria Doc, em São Paulo. Além dos trabalhos autorais, dedica-se a documentar temas sociais e ambientais para organizações internacionais.
Texto crítico
ARQUEOLOGIA DE FICÇÕES
Gilvan Barreto
Quando imaginamos um lugar, damos voltas em nós mesmos. Transbordamos histórias, resolutos em nos reapropriar de símbolos que nem sabemos ao certo se nos pertenceram um dia. Não deixa de ser um esforço, procurar a ilusão. Buscar uma narrativa que construa imagens talvez seja a esperança dos cafundós do começo. Nesse exercício, passa-se a criar para refutar o esquecimento, pois resignar-se diante do tempo é colocar-se ao rés do chão e ficar lá, letárgico, prostrado.
O contrário pode ser questionar o destino das imagens embebidas em nós. É preciso esgarçar o imaginário, pesquisar os fatos, esquadrinhar arquivos, abrir caixas, reler cartas. Encontrar peixes. Amarrar imagens de lembranças. Mergulhar no fogo. Romper com a certeza, às vezes dolorosa, da realidade, para recuperar o alumbramento da arqueologia íntima e de seus nexos.
A partir da lembrança de um território híbrido, pela geografia e pelo afeto, Gilvan Barreto encaminhou sua pesquisa fotográfica por imagens poéticas, que discorrem menos sobre a representação direta do vivido. Decidiu-se pela digressão em construir um discurso metafórico. Partiu da conduta em trazer camadas soterradas pela fotografia. Ou seriam carcomidas pela memória?
Sua proposta visual reconsidera os termos do lembrar-se, recorre ao exercício processual de questões que vão além de buscar tão somente traços do passado, rastros políticos, visualidades religiosas-profanas. A disposição em inventar um universo outro, alimentado pela experiência do tempo, trouxe para Gilvan Barreto a fragmentação dos vínculos lineares da narração. Criou intervalos na memória para fluir uma arqueologia de ficções da sua própria história.
Georgia Quintas/Olhavê