Exposições
Entre Nuvem e Vento | Claudia Tavares
Sobre o autor
Claudia Tavares nasceu no Rio de Janeiro em 1967. Trabalhou como assistente de direção na VideoFilmes e no departamento de fotografia da Tate Gallery em Londres. É Mestre em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ e em Imagem e Comunicação pelo GoldSmiths College da University of London. Atualmente leciona no Ateliê da Imagem e atua como fotógrafa free-lancer. É uma das mentoras e organizadoras do projeto FIGURA, juntamente com Dani Soter, um projeto que se propõe a apresentar novos artistas contemporâneos em espaços não institucionais por apenas um dia (www.projetofigura.com). Atua como artista, participando de exposições e como curadora, organizando mostras de fotografia. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Texto crítico
BATE-PAPO COM O CURADOR MARCOS BONISSON:
MB: Qual é a idéia essencial desse novo projeto ? CT: Eu saí de um mestrado, onde o processo foi muito cerebral. Senti necessidade de voltar a trabalhar mais solta. Essa é a idéia essencial da exposição. Pensar em termos de leveza. Retirar o peso. O peso da vida, do cotidiano, das dificuldades, etc. Tem uma frase do Ítalo Calvino que diz: “a busca da leveza como reação ao peso de viver”.
MB: Você trabalha com a noção de que menos é mais, ou de que muito é pouco.
CT: Com certeza sou da turma do menos é mais. Sou econômica e objetiva, não tenho vocação pra rococó, pra muita cor e muita coisa ao mesmo tempo. Acho que nasci “essencial”. Busco a simplicidade e a elegância.
MB: Essa essencialidade é resultado de um processo?
CT: Acho que é o resultado de um modo de vida. Quando trabalho em cima de uma idéia, tenho dificuldade de desdobrá-la, porque parece que o que eu queria falar já havia sido dito, então não existe mais o que fazer. Esta exposição é um exercício de desdobramentos de um mesmo conceito.
MB: Existe algum trabalho que operou como “gatilho” para a realização dos outros?
CT: Existe. Foi um trabalho que eu comecei como um exercício do seu curso. A proposta era “respiração” e eu resolvi ensacar o ar de certos lugares por onde eu passava, na tentativa de chegar ao elemento essencial à respiração. Esse trabalho foi / é fundamental para a noção de leveza que eu quero dar a essa exposição. Foi a partir desse elemento AR que eu percebi minha necessidade de inserir leveza nos meus trabalhos, de sair do campo cerebral, em direção à poesia. Ar, céu, nuvem, vento. Tudo isso me fascina. Trabalhar com a imaterialidade, tentar capturar o “nada”.
MB: Conte como foi a seleção dos trabalhos para esta exposição.CT: Acho que o processo foi de desencadeamento de idéias. Começou com o elemento ar e daí eu pensei no céu, como uma imensidão de ar, com os passarinhos que voam nessa imensidão, eu sou fascinada pelo céu. Acho incrível essa onipresença imaterial. Estar em todo lugar e não ser nada! Do céu eu fui para o vento, asas, e depois para os balões… MB: Gosto muito da idéia e da ação de “retirar pedacinhos do céu”…
CT: Pois é, eu fiquei com vontade de abrir buraquinhos no céu e ver o que teria atrás desse infinito, dessa imensidão azul. Essa ação de retirar pedaços tem esse intuito. O que é o céu? Não é nada, mas está em todo lugar. Então abrir buracos no nada, buscar o que não existe materialmente, esta é a proposta. Tentar des-cobrir o que está por trás do azul. MB: Fale um pouco do trabalho “Procurando Baldessari”…CT: Procurando Baldessari surgiu numa viagem de carro ao sertão de Pernambuco. Eu ia observando a estrada, os arredores da estrada e o céu. E via no céu esses cabos de energia elétrica que abastecem as cidades, os lugarejos, que levam luz aos lugares mais longínquos. Mas olhava principalmente essas bolas vermelhas que atravessavam o céu, cortando as estradas, que servem para equilibrar os fios e evitar que criem barrigas.
Sempre me lembrava do trabalho do John Baldessari “throwing four balls in the air to get a square (best of thirty-six tries)”. Resolvi tentar formar um quadrado com as bolas que eu tinha disponíveis naquele momento. Fiz mais do que trinta e seis tentativas! E não cheguei a fazer um quadrado.
MB: Como é ter fotografias e objetos não-fotográficos no mesmo espaço ?
CT: Eu normalmente penso em imagens e por isso a fotografia é o primeiro meio que uso. Minhas idéias são muito visuais, minha formação é fotográfica. Mas tem algumas idéias que são exceções e que não se resolvem com fotografia, que pedem a tridimensionalidade, a manufatura. Eu gosto muito do fazer manual, sentir um material, apesar de ter feito poucos objetos ainda. Acho que essa vontade de trabalhar manualmente, ainda vai me levar a muitos outros objetos, a explorar outros materiais também.
MB: O material “alfinete” parece ser recorrente em algum de seus trabalhos. Que “acunpuntura” é esta ?
CT: Eu gosto de alfinetes. Eles mapeiam, prendem, soltam, delimitam, consertam. Alfinetes são simples, elegantes, e eficientes, na maioria das vezes. Acho que eu os uso para desenhar, criar linhas, mas, além disso, eles “ferem”. Na acunpuntura, as agulhas são usadas pra liberar tensões, depois de retiradas. Eu não retiro os alfinetes. Deixo-os ali, demarcando territórios, criando tensões.