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Entre Líneas | Coletiva
Sobre o autor
Esta coletiva, organizada pela curadora colombiana Maria Iovino, reúne trabalhos de quatro jovens artistas colombianos que pesquisam interfaces entre o desenho e outras mídias como a fotografia e video: Mónica Naranjo, Angélica Teuta, Luisa Roa e César González.
Texto crítico
Países como a Colômbia, que tiveram uma forte tradição com a mídia do desenho e que sobrevivem em condições de subdesenvolvimento, reinterpretando os avanços das ciências através de suas desatualizadas infraestruturas tecnológicas e industriais, construíram, ainda assim, através dos anos, de maneira espontânea e natural, produtos verdadeiramente ricos em muitos horizontes para a formação de um novo olhar.
Talvez pelo estigma da sua forte problemática política, a Colômbia foi um país que por muitos anos não esteve no foco da pesquisa internacional sobre arte e, por esse motivo, seus artistas tiveram uma escassa circulação, apesar da maturidade de muitas de suas propostas. No entanto, hoje, apesar de ainda prevalecerem diversas formas, posições e discursos centralizadores e excludentes, tanto na economia como na política, é impossível viver no isolamento ou em lugares que, há poucos anos, eram desvalorizados enquanto periferia. São demasiados os mecanismos que permitem interagir de forma simultânea com o velho aparato, além de que esses mecanismos se estendem a incontáveis circuitos novos e alternativos. Assim, tornou-se conhecido o intenso panorama artístico da Colômbia, bem como a novidade que comporta o seu olhar e que, hoje, é amplamente conhecida.
Por décadas, os artistas colombianos se identificaram exclusivamente com o tema da violência, sobre a qual, com toda a lógica, a circunstância política e histórica do país tem exigido uma reflexão. Mas isto resultou no absurdo de uma leitura que foi assimilada como clichê, não somente fora como também no próprio país, com claras consequências em uma produção eminentemente cômoda e comercial.
Portanto, é claro que, no presente, exista uma reação a esse tipo de olhar, o que não implica um abandono reflexivo dos problemas do contexto. O que aconteceu é que eles passaram a ser observados sob outras óticas e a partir de uma avaliação de outros intercâmbios e relações. Para a geração que cresceu e se formou nos anos mais intensos do desenvolvimento da internet, o mundo e o próprio espaço são outros. Os tópicos da sua reflexão se universalizaram e dependem de uma sonoridade muito diferente daquela que acolhe a fronteira territorial e que determinou a criação artística até somente quinze anos atrás.
O músico canadense Murray Schafer denomina de soundscape das sociedades o murmúrio que lhes marca um limite e faz com que elas se repitam, revisem-se ou se desesperem. Hoje, neste soundscape, há que ser considerada também a sonoridade emitida pelas relações universais que são propiciadas por diferentes áreas da informação e da informática. Se pensarmos em um único exemplo a este respeito, cada indivíduo que trabalha ou se relaciona a partir de um computador, amplia, a cada dia, o seu diálogo com outros e com uma quantidade insuspeita de fontes de conhecimento. A forma de pensamento que essas estruturas propiciam é inédita e implica pensar em muitos outros aspectos que ultrapassam os limites outrora estabelecidos.
Maria Iovino