Exposições
Despacho | Coletiva
Sobre o autor
Despacho foi organizado pelo coletivo Grupo DOC (Desordem Obsessiva Compulsiva), formado por Isabel Löfgren, Marco Antonio Portela, Mauro Bandeira e Patricia Gouvêa. De 2005 a 2009 lançou diversas ações e provocações afetuosas no circuito de arte contemporânea, como as mostras NANO, FAKE, NUBES e DESPACHO. NANO itinerou por diversas capitais brasileiras e também foi apresentada na Colômbia e Suécia, reunindo mais de 200 artistas contemporâneos. www.grupodoc.net
Texto crítico
“Todos precisamos de veículos para ativar e preservar a memória. Ouvimos os ecos do passado em prédios antigos, álbuns de família, cartas de amor, objetos que caíram em desuso, cheiros, sons e sonhos recorrentes. É preciso, igualmente, estabelecer uma ligação com os espíritos, um elo entre os vivos e os mortos, uma abertura do presente com os tempos idos e com os que ainda estão por vir.
E, assim, nasce o despacho, um ritual que propicia uma ocasião estruturada para que a invisível alma dos mortos (ou dos deuses que pairam sobre nós) possa retornar ao seu local de origem – uma volta pra casa –, tendo tais objetos simbólicos como armadilha para o retorno, mesmo que seja apenas por um instante, evitando, então, que a alma se desintegre.
Mas, objetos são apenas objetos. Essa comunicação simbólica fortalece os laços de afeto, restaura a alma, proporciona uma retificação moral e uma negociação de relações com aqueles entes que nos dão, em troca, uma espécie de identidade. Despacho é dádiva, mas, ironicamente, na nossa cultura burocrática, despachar também significa “tirar de si” (a papelada), “mandar adiante” (o processo jurídico), ou rejeitar (os amores).
No entanto, um objeto por si só não constitui despacho. Se considerarmos a arte como uma coleção de objetos inertes, residentes em seus pedestais ou enclausurados em suas molduras, eles não são concebidos, sempre, para estabelecer tal ligação esotérica. Fala-se em “interação” com o espectador, mas permanecemos imóveis e estupefatos diante de meros artefatos. Na falta de função, a arte perdura em um vácuo no qual não sabemos mais porque a fazemos ou para quê servem os objetos que criamos. Talvez a arte seja puro entretenimento e basta.
O Grupo DOC propõe, para a exposicão Despacho, que os treze artistas convidados meditem sobre essa questão, que dialoguem com os deuses que lhes servem e que façam de seus objetos mais do que meras colocações materiais. O número 13 é igualmente simbólico: um artista para cada mês do ano, e um décimo terceiro em homenagem a EXU, o grande Mercúrio, despachador entre as esferas dos deuses e dos mortais.
Que todos despachem sobre a tela branca oferecida e transformem seus objetos e imagens em veículos, em estopins de diálogo com algo mais, querendo entender, talvez, que deuses são esses com quem nos comunicamos, por onde vamos, o que recebemos, o que prometemos, para falar com quem, para dizer o quê.”
Grupo DOC