Exposições
Depois d’Dantes | Cesar Barreto
Sobre o autor
Fotógrafo carioca, com mais de 30 anos de carreira, tem trabalho autoral reconhecido sobre o Rio, que retrata em preto-e-branco segundo inspiração também secular, atuando também como instrutor diletante, printer para vários outros fotógrafos de sua afeição e profissional na reprodução dos assuntos de arte em geral.
Texto crítico
Nos sítios arqueológicos do Parque Nacional da Serra da Capivara e na região do Seridó, a pré-história gráfica se evidencia ora em painéis de clara coerência estilística, ora em profusão caótica onde milênios de culturas e autores se entrecruzam livremente. São galerias a céu aberto, tocas encarapitadas no alto dos vales e até verdadeiras catedrais com dezenas de metros de paredes recobertos com desenhos e gravuras.Para nossos olhos modernos, não há como evitar um certo assombro. Primeiramente, com a própria técnica e o apuro estilístico de nossos artistas primevos. Impressiona a expressividade que extraíam do bruto da pedra tirando o máximo com um mínimo de traços e formas. Porém, mais do que isso, nos assusta a atualidade dos registros. Tudo está lá: a violência, o lúdico, religião, mito, o amor e o meio-ambiente. Todos as nossas questões existenciais ali já se evidenciavam há 10.000 anos atrás. Evoluímos afinal?
Navegando nos terrenos movediços da divulgação científica, seguimos nesta jornada sob a orientação de Niède Guidon e Anne-Marie Pessis, sumidades da arqueologia e curadoras do projeto ANTES, tendo no entanto a missão de produzir cenas antes de tudo cativantes. Para isto, todo o trabalho de campo foi desenvolvido de forma a traduzir uma visão noturna dos sítios arqueológicos, supondo-se que neste período se dava boa parte da produção da arte rupestre e da própria convivência humana. Na exposição que ora apresento, já sem as amarras da ciência e da produção cultural, traduzo livremente o trabalho de nossos antepassados, esperando que a todos induza o desejo de vivenciá-lo pessoalmente. Enquanto é tempo.
Cesar Barreto