Exposições
Da Paixão | Marco Antonio Portela
Sobre o autor
Mestre em ciência da arte pela UFF, curador independente, fotógrafo, laboratorista p&b e artista plástico. Estudou fotografia no Senac, Foto in cena e no próprio Ateliê da Imagem, dentre outros. Membro fundador dos coletivos DOC e Buraco, dedica-se à pesquisa de suportes e impressões fotográficas alternativas. Participou de diversas exposições no Brasil e no exterior. Tem obras em coleções e acervos como: Joaquim Paiva, Luiz Gama (LGC), Carlos Barroso e Caixa Econômica Federal, entre outros. Fez parte da equipe de leitores de portifólio do FOTORIO 2009. Sócio-fundador da galeria virtual GALERIA 3. Foi premiado como um dos melhores portifólios do Festival Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro, o FotoRio. Atualmente coordena a galeria de arte contemporânea MENINOS DE LUZ do complexo Pavão-Pavãozinho.
Texto crítico
A partir de um resgate de reminiscências autobiográficas, Marco Antonio Portela investiga na mostra Da Paixão, um universo masculino sobre a égide de um denso convívio feminino permeado de paradigmas. O artista perdeu sua mãe natural antes dos dois anos e foi adotado por várias mulheres: Tias, primas, madrinhas e avós. A tentativa de compreender esse desígnio relacional e seus possíveis desdobramentos é uma das fundamentais busca do artista. A exegese do trabalho de Marco Antonio Portela reside no desejo de uma comunicação visual direta, como um gesto corpóreo de mostrar o que não pode ser dito. Em tempo de “recorta e cola” e simulações em profusão, Portela aposta no caminho das incertezas permanentes, e incorpora o acaso como oráculo.
As figuras femininas representadas na superfície abrasiva das suas grandes lixas, parecem prontas a fazer revelações insólitas. Essas efígies enigmáticas formadas por campos reticulares de excepcional força são essencialmente fotográficas, evidenciando sem qualquer cerimônia a noção de tempo e morte como condição ontológica do meio fotográfico. No seu rito de composição, Portela evoca o espírito do artista alquimista através de um amalgamar de elementos diversos, que contribuem para formar uma visualidade de misturas coerentes. Nesta pesquisa, o artista utiliza suportes fotográficos inusitados, os emulsionando exaustivamente com camadas de alógenos de prata, sensíveis à radiação luminosa, desse modo imprimindo sua selecionada iconografia familiar de mulheres em lixas, marmitas, pratos e outros utensílios domésticos que são transmudados quase instantaneamente em inutensílios, porém agora agregados de um outro valor e magnetismo.
Na dinâmica desse processo de trabalho são gerados deslocamentos improváveis: Na série Compotas, o artista insere refotografias de antepassados em receptáculos de vidro de conserva, na sugestão de resguardá-los da ação inevitável do tempo. Embebida por uma solução simbólica, como um formol cósmico que a tudo preserva, a memória reinventada de Marco Antonio permanece em suspensão, virtualmente intrigada pela transitoriedade da experiência humana. Talvez no devir, o autor se liberte da teia referencial do signo fotográfico planar e se lance no espaço aberto, pesquisando novos suportes e veiculando outras proposições, alguns de seus mais recentes objetos já apontam para essa transição. No mais, o que será-será no lastro e fôlego da sua imaginação.
Marcos Bonisson