Exposições
Buscadores | Calé
Sobre o autor
Fotógrafo profissional há 16 anos, Calé já contribuiu com publicações como National Geographic Brasil e Japão, Newsweek, NY Times, Vogue, GQ, Trip, TPM Playboy entre inúmeras outras. Nos últimos três anos vem se dedicando cada vez mais aos seus trabalhos autorais, reflexo de uma grande mudança em sua vida. Hoje seu trabalho reflete o universos de vivências interiores, onde predominam os conflitos relacionados ao amor, sexualidade, identidade e espiritualidade.
Texto crítico
Corpos-sujeitos transitórios Um detalhe sobressai na biografia de Calé: o de ter residido em diversas cidades – Rio de Janeiro, São Paulo e Nova Iorque. Mas não é à grandiosidade da paisagem exterior que as fotos se referem. Ao contrário, tratam da busca de essências invisíveis. Talvez por isso, esta série de imagens denote, em particular, o desejo do artista em explorar a opacidade dos retratos, impenetráveis em sua aparência, sem garantia de identidade. Aí também reside a sensação de isolamento que nos invade. Calé abandona a formalização convencional do corpo, para se colocar no limiar entre os aspectos concretos do mundo e o vazio que o envolve. Não se pode imaginar nada de mais contraditório. Afinal, de um lado está a presença do espírito cosmopolita, símbolo de mobilidade, como se o artista pudesse trazer para nós a nitidez dos lugares de passagem. De outro, a captura do informe, signos incertos, figurações precárias, como as sombras da caverna de Platão ligada às injunções do imaginário.
De fato, para transpor para o campo artístico esta experiência de não pertencimento é necessário manter-se constantemente na fronteira entre o mundo e uma identidade provisória, que aqui se esvanece pela irradiação luminosa que ofusca nosso olhar. Mas é através desse fulgor, uma substância concreta percebida como espectro, que o paradoxo se instaura. Estas figuras enigmáticas, com suas silhuetas esmaecidas, quase em diluição, permanecem como formas humanas, sem maiores vínculos com conceitos abstratos. São ambiguidades que fogem aos roteiros pré-definidos, normatizados pela sociedade globalizada. Através da busca espiritual, de sua ligação com a filosofia de Osho, Calé tenta salvaguardar a autonomia de seu próprio ser em direção à “vacuidade interior”, para longe das coisas externas. Por fim, é na série Heads,do fotógrafo norte-americano Philip- Lorca di Corcia, que Calé busca inspiração: a auto-consciência e a permanência do espaço psicológico do sujeito contrastam com o anonimato das grandes cidades.
Angela Magalhães/Nadja Fonseca Peregrino | Curadoras e Pesquisadoras Associadas