Exposições
Baixo Estácio | AC Junior
Sobre o autor
Nascido no Rio de Janeiro em 1967, AC Junior é fotógrafo desde 1992, com colaboração em diversas publicações nacionais e internacionais. Sempre desenvolveu uma documentação autoral focada nas questões ambientais e culturais do povo brasileiro. Foi um dos fundadores da Agência FotoinCena em 1995. Participou de diversas exposições coletivas como a 1° Bienal Internacional de Curitiba em 1996″; “Transfigurações: O Rio no Olhar Contemporâneo” (2001); “Demasiado Humano” – Coleção Joaquim Paiva, MAM – RJ (2006); “Projeção Urban Space”, no Oi Futuro e na Galeria Life Shop em Berlim (2007); “Oscar Niemeyer, uma invenção no tempo”, Art Museum of Americas (Washington/EUA) e Museo de Arte Contemporâneo (Caracas/Venezuela), em 2008/9.
Premiado no “2°Foto Arte 2009” de Brasília com o ensaio Amazônia. Nomeado para participar do prêmio “3° PrixPictet” ciclo Growth 2010. Integra a coleção Joaquim Paiva de fotografia brasileira contemporânea e a coleção do Museu de Fotografia de Curitiba.
Texto crítico
AMORTE
Se alguém quer matar-me de amor,
que me mate no Estácio…
Luiz Melodia
O trabalho fotográfico de AC Júnior em “Baixo Estácio” me traz à lembrança palavras do poeta Carlos Drummond de Andrade, enaltecendo o seminal livro “A Pedra do Reino”, de Ariano Suassuna: “Não é qualquer vida que… ”. O grifo é meu, a vida é de AC Júnior.
Nasci no Estácio, fui para Vila Isabel com três anos e meio e voltei para lá aos onze. Vejo passagens de minha própria existência pelas lentes de AC: a cadeira na calçada; a grelha da churrasqueira; o casario esburacado, mas com toques surreais de cor; a absurda carcaça de um fusca no telhado da loja inverossímil; o pôster de lindas mulheres contrastando com as flores gonocócicas; a onipresente bola de futebol meio baleada; o lixo, o lixo, o lixo; o cafetinesco carrão dourado; os aparelhos de tevê com antenas de chifre e péssimas imagens; a proteção – ai de nós! – de São Jorge Guerreiro e São Sebastião Flechado; o fulgor lisérgico da fantasia brotando entre samambaias choronas.
“Baixo Estácio” faz meu coração cantar de raiva pelas covardias que vi, e me faz reconhecer, como no samba com João de Aquino, que eu vim da Maia Lacerda e essa merda faz parte de mim. Associo a esse, outro verso de uma parceria inédita com o nunca suficientemente pranteado Ratinho:
O Sol, que é tão metido a Astro Rei,
sempre apagou nos butiquins onde eu brilhei.
É mentira, claro – mas uma mentira de amor. O Estácio é pródigo em amores, mentiras e mortes
Por isso, as fotos de AC Júnior parecem miragens: o Estácio é um deserto que seus adoradores transformam em oásis coloridos – um pedaço da cidade cheio de joias fulgurantes e rios diamantíferos que, se forem olhados de perto, são farrapos de serpentina catados por uma criança na sarjeta.
Aldir Blanc