Exposições
Arquitetura do Secreto | Monica Barki
Sobre o autor
Entre as principais individuais realizadas pela carioca Monica Barki destacam-se: Desejo, Galeria TAC (Rio de Janeiro, 2014), Arquivo sensível, Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, 2011), Lady Pink et ses garçons, Galeria Anna Maria Niemeyer (Rio de Janeiro, 2010), Collarobjeto, Centro Cultural Recoleta (Buenos Aires, 2001), Colarobjeto, Galeria Nara Roesler (São Paulo, 2000), Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2000) e Pinturas, Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro, 1992).
Além de mostras coletivas no Brasil e no exterior, a artista destaca: Contemporary Brazilian Printmaking, International Print Center New York (Nova Iorque, 2014), Gravura em campo expandido, Estação Pinacoteca (São Paulo, 2012), Arte em Metrópolis, Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2006) e Museu Oscar Niemeyer (Curitiba, 2006), Arte Brasileira Hoje, Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM-RJ (2005), 11ª Bienal Ibero-Americana de Arte (México,1998), 21ª Bienal Internacional de São Paulo (1991). Obras estão presentes no MAM-RJ, MAM-SP, Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte), Coleção IBM (Rio de Janeiro e São Paulo), Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Curitiba), Itaú Cultural (São Paulo), Museu de Arte Contemporânea de Niterói (Coleção João Sattamini) e Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (Fortaleza), entre outras.
Texto crítico
O olhar do poder e o poder do olhar
O secreto está aqui. Supostamente revelado. Por que não admitir que a arquitetura mencionada no título desta exposição pode ser também a arquitetura desta galeria? Desta forma, igualam-se o espaço retratado nas obras da artista e o ambiente onde estas fotos estão sendo compartilhadas. Motel e galeria de arte como momentos de contato como uma mesma energia que dá visibilidade a instintos e que alimenta o visual como revelação. O secreto desvendado nas fotos e o secreto guardado na cabeça do espectador colaboram na construção de uma arquitetura do olhar.
Da mesma forma que um quarto de motel é campo de reverberação de imagens, reflexos de desnudamentos e consagração do visual, uma galeria de arte celebra o que o olhar tem de cultural, predatório e instável. O quarto de motel parece nos dizer que o sexo não existirá se ele não for visto e multiplicado como informação visual o maior número de vezes no período em que se estiver ali. Afinal, o motel é um palco onde o visual é cobrado por horas. Os espelhos multiplicam os amantes, criam uma plateia de voyeurs feita deles mesmos: um público virtual dentro do privado.
Também o olhar dos espectadores na exposição resulta de rebatimentos entre as obras, entre os corpos e o lugar. É um olhar que, assim como no motel, já nasce com os momentos contados. Comparada com a experiência de quem ouve um concerto, numa fruição estendida no tempo e muito mais mental que física, numa exposição o espectador salta de trabalho em trabalho como se experimentasse pequenos orgasmos. Há uma ânsia na natureza do ver. Onde focar? Por quanto tempo? O todo ou a parte, o que priorizar? Há uma instabilidade. Ânsia e instabilidade caracterizam tanto o amor praticado nos quartos de motéis quanto o percurso de um espectador numa exposição de arte.
O mundo é feito de relações. E aquilo que a artista torna visível (objetos cortantes, situações eróticas, sadomasoquismo) é tão intenso e forte quanto o que os espectadores escondem. No fundo (e nas aparências), tudo é um jogo de poder. O visual exerce seu poder sobre o sexo, a artista exerce seu poder sobre a arquitetura e o público exerce seu poder sobre a artista, que dele é escrava, que para ele faz arte, se fragmenta, se expõe, trabalha. Vencedora nas artes marciais e nos jogos que se desenrolam nas imagens, a artista curva-se ao olhar do espectador: impassível, soberano. Parado por míseros segundos apenas diante de cada uma das fotos da exposição, o espectador se detém com compostura, como se tudo entendesse. Porém, sua ignorância e incompletude estão muito bem disfarçadas.
Arquitetura do Secreto de Monica Barki é uma exposição sobre relações, sobre o olhar do poder e o poder do olhar. São muitos os atores aqui. E no drama destas relações se destacam o dizível e o indizível, o que pensamos saber sobre nós mesmos e os enormes esforços que empreendemos para de alguma forma existir. É um evento sobre o olhar do poder, sobre como o poder se veste, se configura e se organiza para melhor nos enquadrar; e sobre o poder do olhar, sobre como o poderoso olhar do espectador é capaz de nos desnudar.
Frederico Dalton